• Diretor de Redação Ulysses Serra Netto

Cultura

Jovem da Capital representará MS no Mister Trans Brasil

Concurso, que será realizado em Dezembro, traz representatividade para a comunidade Trans

Sexta-feira, 14 Outubro de 2022 - 13:09 | Isabela Duarte


Jovem da Capital representará MS no Mister Trans Brasil
(Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal)

Alexandre Clemente Fernandes, de 22 anos, é acadêmico de Educação Física e Mister Trans Mato Grosso do Sul. Ele irá representar o Estado na competição nacional, que ocorre no dia 6 de Dezembro.

Ele iniciou sua transição em 2019, e venceu a timidez para falar mais sobre esse momento e ajudar outros homens trans. Ganhador da competição regional em 2022, ele agora leva as questões LGBTQIAP+ para discussão em todo país. 

“Para você ser mister não tem que ser só um rostinho bonito, tem que ser fluente em políticas públicas, entender bem das necessidades da nossa comunidade e da sociedade, da política, da saúde e do SUS”, afirma.

MS no Mister Trans Brasil
(Foto: Luiz Alberto)

Alexandre conta que na fase regional, os participantes puderam se preparar, com acesso às perguntas que poderiam ser usadas no concurso, promovido pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat).

O Mister MS foi composto por três provas de trajes, sendo eles: gala, personalidade e verão. Cada mister precisava saber se portar nesses trajes, principalmente o personalidade, que representava cada um.

“A gente estudou, com base naquelas perguntas, mas não sabíamos qual ia ser a nossa, porque eram sorteadas na hora. E a gente sentou na hora do ensaio e ficamos treinando as respostas”, relembra o momento.

Na prova dos trajes, voltado à área dos esportes e da saúde, Alexandre optou pelo visual de “educação física”, com halteres de isopor, fazendo movimentos de treino a cada parada, como rosca direta e alternada.

Com vencedor do concurso, ele reconhece as dificuldades da comunidade e dos eventos em conseguir patrocinadores e apoio financeiro. Sua faixa oficial de Mister Trans MS foi produzida com recursos próprios, pois a organização do concurso regional não tinha condições, não sendo possível também produzir as camisetas oficiais da competição.

MS no Mister Trans Brasil
(Foto: Luiz Alberto)

Timidez - O Mister Trans MS conta que começou a competir incentivado por seu melhor amigo, que foi o vencedor do concurso em 2021.

“Ele disse que eu era muito tímido mas tinha potencial para participar, e me falou ‘o que você acha da gente desafiar essa sua timidez?’. E pensei que não custava nada tentar”, diz Alexandre.

Ele começou então a estudar políticas públicas e sobre as necessidades da comunidade trans e foi ganhador logo em seu primeiro concurso, em 2022.

“Eu estudava de madrugada sobre as políticas, as reuniões do Ibrat, mas não há artigos sobre a gente, os homens trans, porque somos mais invisibilizados, já que o homem trans começou a luta mais tarde”, explica.

Lutas - O representante do Estado também fala que a comunidade sofre muitos preconceitos e está, a todo momento, com medo de sofrer violência. Além disso, pessoas trans também lutam para ter mais voz dentro da própria comunidade LGBTQIAP+.

Os homens trans, diz Alexandre, normalmente assumem uma postura confortável pois sua mudança física é mais rápida do que no caso das mulheres trans e podem ser confundidos com homens cis.

“Por causa disso, a gente não vai sofrer tanto a transfobia quanto as meninas, não vamos ter tanta dificuldade de arranjar um emprego, pela nossa aparência e voz”, afirma Alexandre, ao explicar que os homens muitas vezes não lutam e se conformam com esse ambiente.

“Cansei de me esconder. Eu sou um homem trans, nasci num corpo biológico feminino, mas isso não faz com que eu não seja um homem”, conclui.

MS no Mister Trans Brasil
Alexandre, com bom humor, fala com muito conhecimento sobre o que ainda precisa ser transformado na sociedade (Foto: Luiz Alberto)

Apoio - Apesar das dificuldades, o apoio de seus amigos e da família foi, e continua sendo, essencial para seu autoconhecimento e para sua transformação. Sua mãe, Deyse, o ajudou desde o início, com todas as medicações, documentações e, principalmente, com amor.

“Eu e minha mãe não somos muito de conversar, mas ela sempre soube meus sinais e percebeu. Quando eu quis cortar meu cabelo, ela só disse ‘eu sei que você quer cortar o seu cabelo. Liga para a cabeleireira agora e estamos indo lá’, e sempre tinha sido uma briga muito grande em casa porque gostavam do meu cabelo comprido”, diz Alexandre ao contar um de vários momentos especiais de sua transição.

O nome escolhido por ele é em homenagem ao irmão de sua mãe, que morreu de câncer e sempre é lembrado com carinho pela família como uma pessoa bem humorada e muito ligada à família. 

“Quando peguei minha identidade social, entrei no carro e disse para minha mãe que a partir daquele momento queria ser chamado de Alexandre e ela já ligou para minha tia para contar. Depois de três dia ela já tinha arrumado todos os documentos para começar o tratamento hormonal”, conta.

Também importante em sua vida, sua chefe, Elke, o dá suporte para competir e o defende no ambiente do trabalho. Estagiário na Estação do Corpo há dois anos, conta que a chefe torce muito por ele nas competições. 

"Quando eu comecei, lá não tinha papel disponível no banheiro masculino e a primeira coisa com que ela se preocupou foi com a minha necessidade de ter um papel higiênico. São detalhes, mas que faz falta. Ela fez um armarinho para mim, onde guardo minhas coisas e meu papel higiênico, e eu sempre mantenho ele aberto para outros homens trans e meninas que precisam usar", diz Alexandre.

MS no Mister Trans Brasil
(Foto: Luiz Alberto)

Ajuda - Durante o concurso são realizadas diversas provas, como reels nas redes sociais, cujo vencedor foi quem teve mais curtidas no perfil oficial do Mister Trans Brasil. Alexandre também dá mais informações sobre as etapas em seu perfil.

Agora, a principal dificuldade está sendo em encontrar patrocinadores, para ajudá-lo a chegar à competição nacional. São necessárias as passagens de avião, os trajes para cada dia do evento

“Ninguém está ajudando. O Ibrat nos deu R$ 400,00, tanto para mim quanto para o mister plus size de MS, que é o primeiro Estado a ter essa categoria no Brasil, mas só a inscrição foi R$ 800,00”, explica.

Nos quatro dias do evento são realizadas diversas provas e os participantes ficam confinados no hotel, precisando de roupas para todas essas provas e momentos do Mister Trans Brasil.

Alexandre só conseguiu o patrocínio do terno e para poder arcar com todos os custos, está realizando rifas e disponibiliza uma conta para as pessoas ajudarem com os valores. Mais informações podem ser obtidas em seu perfil, que possui um número WhatsApp.

“Eu acredito que o Mister Trans Brasil é muito importante para nossa representatividade. Eu, como Mister, já ajudei muitos meninos a passarem por isso e se sentirem representado por alguém é muito importante”, afirma.

MS no Mister Trans Brasil
(Foto: Luiz Alberto)

Mister Trans Brasil - O concurso foi iniciado no dia 26 de Julho, com a divulgação dos candidatos do Mister Trans Brasil 2023. O evento compreende 41 participantes de 16 Estados brasileiros, da Tunísia e Colômbia.

As provas e demais divulgações do concurso podem ser acompanhadas na rede social.

SIGA-NOS NO Google News