• Diretor de Redação Ulysses Serra Netto

Cultura

(Im)possível Memória resgata ancestralidade na 1ª Mostra de Solos Teatrais

Apresentação será no Teatro Aracy Balabanian, tem classificação indicativa de 12 anos e entrada gratuita

Domingo, 24 Agosto de 2025 - 16:50 | Redação


(Im)possível Memória resgata ancestralidade na 1ª Mostra de Solos Teatrais
Durante a criação, a atriz descobriu que sua tataravó foi escravizada, fato lembrado por sua mãe em conversas despertadas pelo processo artístico. (Fotos: arquivo (Im)possível Memória)

A 1ª Mostra de Solos Teatrais recebe neste domingo (24), às 20h, no Teatro Aracy Balabanian, o monólogo “(Im)possível Memória”, escrito e interpretado por Júnia Pereira, com direção de Gina Tocchetto. A apresentação tem classificação indicativa de 12 anos e entrada gratuita, com ingressos distribuídos 30 minutos antes do espetáculo. O teatro fica nas dependências do Centro Cultural José Octávio Guizzo, que fica na Rua 26 de agosto, n.º 453, centro de Campo Grande.

A peça nasce da inquietação da artista diante da escassez de informações sobre a origem de sua família. No processo de pesquisa e criação, Júnia descobriu que teve uma tataravó escravizada que teria vivido no século XIX, possivelmente no arraial de Boa Morte, hoje reconhecido como território quilombola em Belo Vale (MG). A partir desse fio de memória, o espetáculo mescla história e ficção para trazer à cena a presença dessa antepassada e refletir sobre apagamentos culturais e identitários que ainda ecoam no presente.

“Eu sempre tive uma noção de que tinha ascendência negra por parte da minha família materna, mas essa questão nunca foi muito abordada. Os relatos de origem europeia costumam ser preservados, enquanto os de origem negra ou indígena são silenciados. Quis investigar e imaginar como pode ter sido a trajetória dessa parte da minha família”, explica Júnia.

Durante a criação, a atriz descobriu que sua tataravó foi escravizada, fato lembrado por sua mãe em conversas despertadas pelo processo artístico. “Acredito que trazer a figura dessa mulher para a cena pode reavivar a memória da nossa história social. Muitas vezes falamos da escravidão como algo distante, mas ela está em nossa origem. Essa retomada pode reconfigurar nossa identidade e ajudar a compreender de onde viemos”, reflete.

A diretora Gina Tocchetto destaca que o espetáculo surgiu de um desejo antigo entre as duas artistas de trabalharem juntas, pois elas são colegas no curso de Artes Cênicas da UFGD. “Como a dramaturgia era parte da pesquisa de pós-doutorado da Júnia, partimos dela e das versões que iam sendo refeitas a partir da experimentação nos ensaios. Já nas versões iniciais, havia uma estrutura instigante entre contação de história, depoimento, ativismo e ficção teatral”, pontua.

Para Gina, o maior desafio foi a construção de uma personagem com poucas informações históricas concretas. “Como criar uma personagem verossímil a partir de pistas fragmentadas? Nos dedicamos a compor camadas de interpretação: a atriz em diálogo com o público, a investigadora, a ancestral de ficção e a artista ativista que convida à reflexão sobre o apagamento cultural e humano. Esse foi o grande exercício do processo, que levou cerca de seis meses de ensaios semanais”, explica.

A diretora também ressalta a sintonia da peça com a Mostra. “Acho que o espetáculo dialoga totalmente com a proposta, porque dá visibilidade à potência criadora do encontro de mulheres artistas em busca do resgate da memória de outras mulheres”, afirma.

(Im)possível Memória resgata ancestralidade na 1ª Mostra de Solos Teatrais
O teatro fica nas dependências do Centro Cultural José Octávio Guizzo, que fica na Rua 26 de agosto, n.º 453, centro de Campo Grande. (Fotos: arquivo (Im)possível Memória)

Solos Teatrais - Idealizada pela atriz Karine Araújo e pelo diretor Nill Amaral, da Cia Ofit, a 1ª Mostra de Solos Teatrais apresenta dois espetáculos: Groselha (sábado, 23, às 20h, e domingo, 24, às 18h) e (Im)possível Memória (domingo, 24, às 20h), além de uma oficina literária no sábado (23), no ateliê de criações do Centro Cultural José Octávio Guizzo.

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