Economia
Terras secas viram campos de produtividade em MS
Projeto Inclusão Produtiva transforma a vida de famílias que antes não tinham orientação ou condições de produzir
Sábado, 31 Maio de 2025 - 16:12 | Valdelice Bonifácio

Antes era terra seca, mas agora, é um recanto de produtividade. A frase define pequenas propriedades rurais beneficiadas por um projeto que mudou a vida de famílias do campo, na zona rural de Campo Grande e de cidades do interior do Mato Grosso do Sul, para (muito) melhor. Antes, elas não sabiam e/ou não tinham condições de produzir, mas agora, têm habilidades e fartura.
Que o digam Cleide Zelane Bueke e o esposo Anildo Bueke. A propriedade deles, na saída para Jaraguari, parece outra desde a adesão ao projeto Inclusão Produtiva, realizado em parceria entre a Famasul e a gigante da celulose Suzano, que oferece orientação técnica e insumos para a produção rural desde 2022. Cada canto dos cerca de seis hectares da propriedade dos Bueke é devidamente aproveitado.
A diversidade enche os olhos. Enquanto caminha pelas plantações, dona Cleide mostra orgulhosa o que tem em cada palmo de terra. A lista é grande e não se trata só do tradicional. Com apoio técnico certo, ela e o marido passaram a se arriscar no antes desconhecido, mas que agora já está devidamente incorporado ao ciclo de produtividade da pequena chácara.

"Plantamos mandioca, batatas, cenouras, goiaba, pitaia, acerola, campari, maracaju, seriguela, graviola, amora, amarula, maçã, castanha do Pará, cambuí, mirtilo e por aí vai", detalha Cleide. "Porém, nosso carro-chefe é a mandioca. Temos várias qualidades. E muitos clientes no Centro da Capital, como restaurantes. Toda semana a gente leva para eles", completa Anildo, que vende mais de 500 quilos de mandioca descascada por mês.
O restante da produção, dona Cleide vende de formas variadas. "Vendo as frutas, por exemplo, inatura, em polpas para suco e ainda sementes ou mudas, basta o freguês pedir e ele terá do jeito que ele quer", conta a produtora que acumula clientes com esse atendimento personalizado. O casal Bueke ainda quer mais, pretende organizar o espaço para inserção de animais, embora, já tenham algumas galinhas e porcos no local.
Além dos Bueke, outras 209 famílias estão sendo ajudadas pelo projeto atualmente. A iniciativa seleciona produtores rurais em situação de vulnerabilidade socioeconômica. São famílias com renda mensal de até R$637. A maioria está nas cadeias de leite e horticultura. As famílias foram escolhidas após levantamento socioeconômico que apontou grande aptidão para atividades agrícolas e falta de estrutura ou condições financeiras de produzir.

Com a devida atenção dos técnicos e apoio produtivo do projeto, elas saíram da linha da pobreza e ingressaram no mercado de alimentos, sempre crescente e exigente em qualidade. "No começo foi muito difícil para nós. Eu passei parte da vida trabalhando como caminhoneiro e a Cleide sempre me acompanhou. Um dia, decidimos nos fixar no campo e produzir. Não tínhamos conhecimento e nem dinheiro para investir", relembra Anildo.
Mas, a ajuda que precisavam chegou e trouxe todo o necessário, a começar pelo preparo correto da terra -- e, junto disso, amizades para toda a vida. Leonardo Versolato é o técnico de campo enviado pela Famasul para ajudar o casal dentro do Inclusão Produtiva. Ele relembra que o primeiro passo foi a correção do solo. "Ao chegarmos, a gente coletou amostras do solo para fazer as análises. Depois, vem a correção na medida certa, sem excessos, sem exageros, para otimizar a fertilidade. Aí sim, orientamos sobre o plantio", detalha.
A partir daí, Leonardo cita que o técnico precisa ganhar a confiança daquele produtor, muitas vezes apegados aos seus métodos antigos. "Primeiro tem que entender a realidade de cada um e depois ir ganhando crédito com jeitinho", afirma. E isso, diga-se, Leonardo soube fazer muito bem. Nestes dois anos de trabalho visitando a propriedade, ele se tornou mais do que um orientador é um grande amigão dos Bueke, daqueles que o papo começa e não acaba mais.

Agora, o plantio é feito com o solo corrigido, no tempo certo para cada espécie e com o manejo cuidadoso de fertilizantes e defensivos agrícolas quando necessário. Leonardo também apoia a grande variedade de culturas da propriedade. "A diversidade é recomendável para o pequeno produtor, além da comercialização tem a questão da subsistência também", pontua.
Quem também visita a propriedade e elogia a disposição do casal é a analista da Famasul Letícia Silva Teruya. Porém, segundo ela, os Bueke não são exceção de bom desempenho dentro projeto. Em vários casos, ajustes simples na organização das propriedades geraram melhorias significativas na produção e no aumento da renda dos produtores.
“Embora muitos dos participantes enfrentem desafios financeiros, com alguns em situação de vulnerabilidade social e extrema pobreza, já observamos avanços na produção a partir das recomendações aplicadas, especialmente em gestão e manejo. Claro que ainda há obstáculos a serem superados, como a necessidade de produção em escala comercial competitiva, regularização dos produtores, logística, escassez de água e controle de pragas e doenças”, destaca.

Desde que o projeto começou, o trabalho no campo é intenso. Conforme a Famasul, até Fevereiro de 2025, foram realizados mais de 2.200 acompanhamentos produtivos, com levantamento de demandas para alavancar a produção e fortalecer a gestão das propriedades. Entre Junho e Agosto do ano passado, 206 produtores foram cadastrados no projeto.
O monitoramento parcial realizado em Novembro de 2024 pela Famasul apontou que 190 participantes já tinham superado a linha da pobreza. Os números impressionam, mas a simples observação do impacto humano nas propriedades já é de marejar os olhos.
A história da pequena produtora rural Adriana dos Santos Ferreira foi totalmente transformada pela assistência técnica precisa e a ajuda bem-vinda do Inclusão Produtiva, é ela mesma quem o diz. Sua pequena propriedade de cerca de 5 hectares, em Ribas do Rio Pardo, -- município onde o projeto começou -- era, segundo ela, um areão, principalmente na parte da frente. Hoje, está tomada pelo verde das hortaliças que são seu trabalho, sustento e projeto de vida.

Adriana dos Santos vivia na cidade e sobrevivia trabalhando como empregada doméstica. Quando enfim conseguiu realizar o antigo sonho de se estabelecer no campo não sabia cultivar a terra. Ela tentou aprender obtendo informações com vizinhos e experimentando na prática, porém, os resultados não vinham e ela ainda gastava mais do que podia, o que a levou a um período de dificuldades.
O cenário mudou quando Andriada foi selecionada para um projeto inovador criado para incluir e socorrer pequenos produtores em dificuldades. "Nesse projeto, a gente recebe assistência técnica da Famasul e a Suzano entra com os insumos. Eu aprendi muita coisa. Aprendi a adubar corretamente, do jeito certo, sem desperdícios. Antes eu só jogava o adubo, agora não, eu coloco certo nas hortaliças e frutas. Também aprendi a marcar o local do plantio, fazer contas (...) A gente achava que sabia, mas no final não sabia nada", disse.
Outra questão importante é que a assistência técnica, além de ampliar a produção, torna as pequenas propriedades rurais mais sustentáveis. Adriana admite que anteriormente gastava energia e água em excesso por não saber como produzir, além do adubo que também aplicava sem necessidade, como já foi mencionado.

As mudanças são notadas logo na entrada da propriedade. "Essa área da frente não era produtiva, mas sim muito areosa. Depois, da assistência técnica, correção certa do solo, virou uma área produtiva. Aí eu mexo com hortaliças, alface, rúcula, couve, jiló e beringela", observa. Adriana vende a produção nas feiras da cidade, mas também já tem a clientela que vai a propriedade comprar direto da produtora.
"Estou muito feliz com a assistência técnica, esperançosa, quero aprender mais. Agora, as coisas estão bem melhores, quero ir mais longe", planeja. Ela gravou um vídeo da propriedade no qual é possível fazer uma espécie de passeio pelas hortas para mostrar que o tempo de prosperidade chegou após o direcionamento certo. Assista abaixo:
Meta - A meta do Inclusão Produtiva é que 933 pessoas sejam impactadas até 2026, utilizando como referência o critério do Banco Mundial para renda per capita. Atualmente, o projeto se encontra em execução nas cidades de Aquidauana, Campo Grande, Cassilândia, Dois Irmãos do Buriti e Ribas do Rio Pardo e Santa Rita do Pardo.
Entre as ações já executadas, destacam-se a realização de capacitações sobre empreendedorismo rural em Ribas do Rio Pardo; desenvolvimento de competências básicas e intermediárias em leitura, escrita e cálculo, em Cassilândia; gestão do orçamento familiar em Aquidauana e Santa Rita do Pardo.
Além disso, foram promovidas ações de comercialização em Ribas do rio Pardo, Campo Grande, Cassilândia e Santa Rita do Pardo, melhorias no acesso a conectividade para produtores rurais em Campo Grande, e o acompanhamento de visitas técnicas de monitoramento da Suzano.

Conforme a Suzano, o projeto Inclusão produtiva está alinhado aos compromissos públicos assumidos pela empresa de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico nas regiões onde atua e contribuir para a retirada de 200 mil pessoas da linha da pobreza, até 2030. De acordo com a empresa, alguns desses produtores já tinham a assistência técnica da Famasul, mas era necessária uma complementação de investimentos que permitem o acesso dos produtores a insumos e a mercados consumidores.
"Por meio desse projeto, a empresa fortalece sua missão de ampliar oportunidades que fomentam a agricultura familiar em linha com o direcionador da Suzano que diz que ‘só é bom para nós se for bom para o mundo’, o que contribui para um ciclo sustentável de crescimento econômico e social nas comunidades rurais em Mato Grosso do Sul", considerou a empresa.

Um dado importante sobre a situação sócio-econômica do Estado é de que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que adota as linhas de pobreza estabelecidas pelo Banco Mundial, 19,3% da população de MS encontra-se abaixo da linha da pobreza, enquanto a média nacional é de 27,4%. “O projeto Inclusão Produtiva surge justamente para auxiliar na erradicação desses números fornecendo formação profissional e crescimento econômico”, pontua Letícia Teruya.
Outra entidade que também tem papel relevante na inclusão produtiva rural, oferecendo suporte, capacitação e oportunidades para os produtores rurais da região é o Sindicato Rural de Campo Grande, ou SRCG. Através de parcerias o SRCG promove diversos cursos e ações que visam aprimorar a qualidade da produção e a competitividade no mercado.

No site do sindicato está disponível uma diversificada lista de capacitações gratuitas e de curta duração. Neste momento, são ofertados por exemplo cursos de manejo de pastagens, aplicação de medicamentos em bovinos, implantação e manejo de hortas, conservas de hortaliças e outros. Acesse aqui.
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