Agropecuária
Pantaneiros, de devastadores a Burros!
Segunda-feira, 28 Setembro de 2020 - 21:37 | Redação

Por quase dois séculos o Homem Pantaneiro exerce a pecuária extensiva na planície, não apenas por sua aptidão, mas por ser a única atividade possível visto que, apesar de altas tecnologias desenvolvidas, não encontraram ainda variedades de eucalipto, cana de açúcar, milho ou soja que suportem os extremos de muita agua/muita seca, muito quente/muito frio.
Restou-nos, portanto, a menos lucrativa das atividades agropecuárias, ou seja, a fase de cria extensiva da pecuária. Poucos sabem, mas nem mesmo a fase de engorda pecuária, um pouco mais atrativa que a fase de cria, é exercida na planície pois nosso solo de baixa fertilidade não permite a implantação de pastagens adequadas ao ciclo de engorda.
Dessa forma nossos antepassados, enfrentando períodos de grandes enchentes alternados com grandes secas, adaptaram-se à pecuária de cria. Inicialmente o produto principal era o couro, pois não havia o mercado para a carne. No início do século 20, vislumbraram dias melhores com a implantação das “Charqueadas” (industrias de charque). Charque esse que era enviado aos centros consumidores através de navios pelo Rio Paraguai até Montevidéu, onde havia o transbordo para navios de maior calado
para a navegação marítima.
No meado do século 20, com a implantação de plantas frigoríficas em outros centros, o Pantanal tornou-se o grande abastecedor de bois magros que eram vendidos e, a pé, transportados para região de grandes invernadas de engorda, principalmente no Estado de São Paulo.
Já o final do século, o Pantanal recebeu duas grandes transformações. Saíamos de um grande ciclo de seca (1.959 a 1.974), o pecuarista estava descapitalizado, com campos vazios devido grandes perdas de gado pela seca e a pouca tecnologia de recursos hídricos gerados na época. Nessa situação, entramos em ciclo de grandes enchentes, em um momento que poucos estavam preparados e até mesmo esquecidos de como se enfrentar grandes enchentes. Foi-se perdido o que já não havia!
Muitos foram à bancarrota e marcou-se o início de vendas de muitas propriedades para fazendeiros do planalto que melhor estavam capitalizados, fazendas centenárias foram vendidas e iniciou-se a extinção do Homem Pantaneiro.
Nessa mesma época, em combinação perfeita, recebemos outro tipo de migrante, não o migrante do planalto, com suas diferentes tradições, mas com mesmo objetivo na pecuária. Esse outro tipo de migrante veio de paragens diversas, desde distantes recantos brasileiros até longínquos recantos europeus e norte-americano. Apesar da origem geográfica ser diversa, o perfil e características eram os mesmos, de diferentes idiomas
possuíam o discurso afinado:
“O PECUARISTA É MAU,
THE RANCHER IS BAD.
LE FERMIER EST MAUVAIS,
DER BAUER IST SCHLECHT”.
Com enorme influência em nossa nefasta mídia, e recursos abundantes de origem dúbia, convenceram a população urbana brasileira e mundial que todos problemas ambientais eram causados pela pecuária exercida na planície, como já dito, a quase dois séculos.
Os insistentes e remanescentes Pantaneiros passaram a ser os grandes vilões, até mesmo o controle de grandes enchentes e grandes secas ficaram sob nossa responsabilidade, excluindo-se até mesmo Deus.
Até mesmo amigos e parentes moradores em centros urbanos, mas, que
esporadicamente desfrutaram férias em nosso Santuário, passaram a nos considerar “o cocô do cavalo do bandido”. Desviaram atenções, mentiram, enganaram. Mas a mídia sensacionalista e excesso de recursos mascararam até mesmo o maior desastre ecológico e social ocorrido em solo brasileiro, a morte do Rio Taquari!
Entramos no século 21!
Festejamos muito, pois apesar do índice de risco de extinção estar crescente, ainda existiam Homens Pantaneiros! A primeira década do 21 foi marcada pela democratização da tecnologia, em todos os setores, mas quero que se concentrem em uma tecnologia em especial.
Até então monopólio do Pentágono, KGB e afins, as imagens de satélites tornaram-se acessíveis em qualquer celular chinês. Descobriu-se assim, sem a mínima chance de contestação, que o Pantanal é um dos biomas mais preservados do Planeta Terra.
Possuímos 87% da área intacta, é um exemplo para o Mundo. Os discursos dos cientistas recém-formados foram derrubados por imagens reais e atuais dos excelentes satélites.
“Como manteremos nossos recursos? Nossos salários? Nossas sedes? Nosso Discurso? Como aceitaremos os Pantaneiros como exemplo de povo preservacionista? ”.
Se perguntavam os pseudocientistas desse complicado e amado bioma. “Taxemo-los como Burros!”. Assim, nesse trágico ano 2.020, iniciou-se a campanha do ‘Pantaneiro Burro”.
Meu amigo(a), quem mais que um burro poderia incendiar sua casa e sua atividade? Peço que reflitam nos prejuízos causados por um incêndio em uma propriedade rural, peço que reflitam nos custos de um quilometro de cerca queimada, peço que reflitam em que o gado vai se alimentar com a pastagem queimada, peço que reflitam que somos dependentes de nossa atividade, peço que leiam e assistam os sofridos depoimentos de autênticos Pantaneiros, peço que utilizem seu poder de discernimento para avaliar a
quem interessa essa sórdida campanha de extinção do Homem Pantaneiro.
Por fim quero lembra-los que o grande poeta Manoel de Barros (Nequinho para nós), renomados escritores e historiadores como Abilio de Barros e Augusto Cézar Proença, músicos e compositores de expressão nacional como Guilherme Rondon e Almir Sater são todos Pantaneiros.
Somos um povo cordato, ingênuo até, mas não tão burros a ponto de incendiar nossa alma!
Luiz Otavio B. Carneiro
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