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Polícia

Ataque em retomada mata um e deixa ferido quatro Guarani-Kaiowá

Comunidade exige pela demarcação das terras indígenas

Domingo, 16 Novembro de 2025 - 19:00 | Issel Chaia


Ataque em retomada mata um e deixa ferido quatro Guarani-Kaiowá
Mulheres e criança Guarani e Kaiowá do tekoha Pyelito Kue, novembro de 2023. (Foto: Tiago Miotto/Cimi)

Com o ataque armado de cerca de 20 homens, na madrugada deste domingo (16), foi assassinado com um tiro na cabeça Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá e Guarani, de 36 anos, na retomada de Pyelito Kue, na Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, em Iguatemi.

Em conformidade com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), os atiradores, conforme relatos, tentaram levar o corpo, porém, foram impedidos pelos indígenas.

Ataque em retomada mata um e deixa ferido quatro Guarani-Kaiowá
Imagens mostram as cinco vítimas, sendo uma fatal, do ataque da madrugada deste domingo contra retomada de Pyelio Kue. (Foto: Montagem com fotos da comunidade de Pyelito Kue)

Outros quatro indígenas, como sendo, dois adolescentes e uma mulher, foram atingidos nos braços e abdômen, além de outro adolescente que foi alvejado com um tiro de arma de fogo. Os demais foram alvejados pela agromilícia com balas de borracha.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) confirmou as informações e a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) chegou pela manhã, junto com a equipe da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Para realizar a perícia é esperada a Polícia Federal.

A comunidade revela que há forte indícios de que policiais militares e do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) tenham envolvimento no ataque da agromilícia. Três foram feridos por balas de borracha - armamento destinado às forças de segurança pública com restrições ao uso privado.

Os Kaiowá e Guarani, no início do último mês de outubro, retomaram uma área da Fazenda Cachoeira, sobreposta à TI e contígua à aldeia de Pyelito Kue, que desde 2015 ocupa 100 hectares da Fazenda Cambará - também sobreposta à TI delimitada com 41,5 mil hectares, em 2013. Desde a retomada, os indígenas sofreram quatro ataques.

Entenda o caso - Ataque da agromilícia teve início, por volta das 4 horas da manhã até às 6 horas, momento que os Kaiowá e Guarani recuaram para a aldeia Pyelito Kue - a antiga retomada, contígua à Reserva Sossoró e estabelecida desde 2015 em outra fazenda, a Cambará.

Um cerco mantido pelos pistoleiros impedia acesso à aldeia. A Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), acionada pela FUNAI, atrasou devido as obstruções, inclusive com a destruição de uma ponte, tendo de entrar na aldeia pelas fazendas do entorno.

O agentes da Funai alegam que os indígenas começaram a ligar para as autoridades públicas e aliados ainda no final da madrugada. Durante as ligações e registros de vídeo, é possível ouvir o som dos disparos que pareciam uma guerra.

Barracos da retomada foram derrubados por tratores e abriram buracos para enterrar pertences da comunidade, como panelas, roupas, mantimentos, lonas e objetos de espiritualidade e cultura do povo. Alguns barracos e utensílios foram queimados.

Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado entre Ministério Público Federal (MPF) e a Funai teve a inclusão do tekoha Pyelito Kue/Mbaraka'y, onde o acordo dava o prazo de três anos para publicação de estudos do conjunto de TIs Guarani e Kaiowá no estado.

A partir do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) só teve publicação pela Funai em 2013, sendo denominada Iguatemipegua I e delimitada em 41,5 mil hectares.

A Justiça Federal de Naviraí, em 2012, determinou o despejo dos indígenas, que ocupavam uma pequena área da Fazenda Cambará, sobreposta à TI.

Uma carta coletiva foi publicada pela comunidade, denunciando a decisão judicial e ameaçavam morrer lutando por seu território. 

“Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos não sairmos daqui com vida e nem mortos”, afirmava a carta.

Interpretado, de forma equivocada, como uma declaração de suicídio coletivo, o manifesto gerou grande comoção e milhares de pessoas incluíram o "Guarani-Kaiowá" em seus nomes nas redes sociais.

O Tribunal Regional Federal da Terceira Região (TRF-3), dias depois da repercussão do caso, suspendeu o despejo. Com a decisão, a comunidade pôde permanecer, com aproximadamente 200 pessoas, em apenas um dos 761 hectares da fazenda, numa das poucas áreas do território em que a mata não foi totalmente eliminada para abrigar o gado e às pastagens.

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