Polícia
Acidente no Pantanal mata criador das “cidades-esponja”, referência mundial em urbanismo sustentável
Kongjian Yu estava gravando material para um documentário intitulado Planeta Esponja
Quarta-feira, 24 Setembro de 2025 - 09:51 | Thays Schneider e Agência Brasil

Arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, criador do conceito cidade-esponja, que se utiliza da própria natureza para melhor resistir à ocorrência crescente de tempestades, é umas das vítimas do trágico acidente aéreo em Aquidauana, em Mato Grosso do Sul. Kongjian morreu nesta terça-feira (23), além dele, o acidente deixou mais três vitimas, o cineasta, Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, documentarista, diretor de fotografia e produtor independente, Rubens Crispim Jr e o piloto Marcelo Pereira Barros.
Conforme informações apuradas, Kongjian Yu estavam gravando material para um documentário intitulado Planeta Esponja, produção da Olé dirigida pelo Luiz Ferraz no Pantanal.
Origem camponesa
Yu contou que começou a pensar no conceito de cidade-esponja ao perceber que o vilarejo em que ele morava, em Zhejiang, província no leste da China, estava sendo recorrentemente afetada por inundações.
Segundo o professor, os problemas se agravaram à medida em que avançava o que ele chama de “infraestrutura cinza”, a presença crescente de concreto nas cidades, canalizando rios e impermeabilizando grandes áreas.
Dessa forma, ele colocou em prática projetos de paisagismo que privilegiam a própria natureza para lidar com enchentes, priorizando grandes áreas alagáveis e presença de vegetação nativa. Assim, partes de cidades se tornam uma espécie de esponja, com capacidade de receberem inundação e dar “tempo” para o escoamento da água, diminuindo danos a áreas habitadas.
O sucesso do projeto de Yu fez com que o paisagismo cidades-esponja fosse usado em maior escala em mais de 250 cidades chinesas e replicado também fora do país. Em 2023, o pioneirismo e alcance do conceito renderam a Yu o Prêmio Internacional de Arquitetura Paisagística Cornelia Hahn Oberlander.
O conceito desenvolvido por Yu não se limita a criar áreas cuja única finalidade é ser um espaço alagável. Ele trabalha com a harmonização entre construções e natureza. Os exemplos mais recorrentes são parques que, durante estações de seca, são frequentados pelas pessoas. Muitos são um emaranhado de trilhas e passarelas cercadas por pequenos lagos e muito verde. “Seguros e bonitos”, descreve.
Yu atribui esse conhecimento de lidar com o ambiente sem intervenções drásticas – construção de muros de contenção e canalização de rios – à sabedoria de antepassados. “Não é nada novo para aqueles que viviam há milhares de anos em regiões de monções”, disse, se referindo à temporada de ventos que causam tempestades no sudeste asiático.
Contra infraestrutura cinza
Kongjian Yu é crítico da infraestrutura cinza.
“Gastamos bilhões de dólares canalizando rios, construindo represas, diques, tentando evitar que cidades e aldeias sejam inundadas”.
Segundo o arquiteto, essas intervenções devem ser consideradas para resolver questões imediatas no curto prazo apenas. “Não existe represa segura sempre, o que aumenta o perigo potencial de inundações”, declarou.
“Espero que o Brasil possa aprender com isso. Aprender com o que deu errado na China”, adverte, se referindo ao uso crescente de intervenções da engenharia.
Ele cita ainda que a produção de cimento é um emissor de gases do efeito estufa. Assim, diminuir a presença da infraestrutura cinza contribui diretamente para a redução do nível de poluentes liberados para a atmosfera.
O paisagista chinês defende que o conceito de cidade-esponja é uma solução sistemática para uma trajetória de resiliência, uma filosofia oposta à infraestrutura cinza, e que consiste em reter a água onde ela cai “Essa é a ideia do planeta esponja”, assinala.
O professor da Universidade de Pequim explica que parte do aumento do nível do mar - fenômeno que ameaça ilhas e países costeiros - se dá por causa do escoamento de água pluvial e, segundo Yu, caso essa água fique armazenada na região em que acontecem as chuvas, poderia ser absorvida na mesma área, diminuindo o volume levado para os oceanos.
Brasil
Yu enalteceu a biodiversidade brasileira e mostrou-se entusiasmado com o papel que o Brasil pode exercer no planeta. “Vocês são uma esperança, são um país muito jovem ainda”.
Apesar do otimismo, ele criticou a forma em que a agricultura é cultivada. “Vejo quilômetros e quilômetros de soja. Não há espaço para a água. Vocês podem estar usando técnicas erradas. Uma pequena e simples solução pode mudar a situação dramaticamente: tornem a terra em uma esponja para captar mais água”, recomendou.
O arquiteto considera que um dos primeiros passos para a elaboração de cidades-esponja é a criação de um plano diretor, em que fique claro “qual espaço ceder para água e onde não construir”.
Ele orienta que as áreas alagáveis sejam preenchidas com florestas, parques e lagos. “A nossa solução é tirar o muro. Deixar a água entrar. A água irriga o parque”.
Os muros de contenção são, na visão do paisagista, uma ameaça. Ele explica que quando acontecem transbordamentos, as superfícies de concreto funcionam como barreiras que impedem a água de retornar para o leito dos rios.
Outro fator negativo é que rios canalizados - geralmente mais retilíneos e com menos curvas que traçados naturais - aumentam a velocidade do fluxo d’água, em vez de retardá-la.
Segundo Yu, é preciso planejamento para que rios canalizados sejam transformados em rios-esponja, com vegetação, pequenas ilhas verdes que absorvam parte da água. “Nós temos que pensar grande”, incentiva.
Ele entende que, em vez de quilômetros e mais quilômetros de muros de contenção, é preferível criar uma “parede belíssima que respira, com vegetação nativa, um corredor verde, bem no meio da cidade”.
Kongjian Yu considera que iniciativas individuais também podem contribuir para que as cidades exerçam melhor a função de esponjas. Ele dá o exemplo de prédios e apartamentos que podem absorver a água da chuva. “É possível coletar e levar para a varanda, irrigando hortas”, detalha.
Últimas Notícias
- Acidente aéreo - 14:50 Corpos de vítimas estão na Capital
- Amplavisão - 14:32 Direita rachada: quadro político confuso, por Manoel Afonso
- Despedida - 14:10 Morto aos 80 anos, ex-conselheiro do TCE-MS teve longa trajetória política
- Crianças - 13:50 ONG alerta para alta do trabalho infantil entre crianças de 5 a 9 anos
- Inflação - 13:30 Prévia da inflação sobe 0,48% em setembro
- Economia - 13:12 Produtos de MS ganham espaço internacional
- Inclusão - 12:45 OAB/MS e IEPSIS lançam congresso internacional sobre autismo
- Saúde - 12:19 Ação gratuita na Capital chama atenção para saúde cardiovascular
- Febre Oropouche - 11:50 Saúde de MS antecipa combate à Febre Oropouche
- Cop30 - 11:30 Pré-COP30 Bioma Pantanal acontece em Campo Grande no dia 30 de Setembro