Geral
Relembrando Ulysses Serra
Um homem marcante, de inconfundível valor moral e intelectual, falecido prematuramente, mas que vive ainda entre seus pares da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras,
Sábado, 11 Novembro de 2023 - 12:12 | Redação

Conheci Ulysses Serra quando veio de Cuiabá para se fixar em Campo Grande, instalando o cartório do 5º Oficio de Notas, na Rua Dom Aquino, no meio da quadra entre a Rua 14 de Julho e a Av. Calógeras, do lado esquerdo de quem vai para os Correios. Um salão amplo, com balcão dividindo a área ao meio, no sentido longitudinal. A frente era destinada aos clientes, e os fundos, com as mesas do tabelião, que também era escrivão privativo de inventários do substituto Barbato, e da escrevente Isabel.
Gente boa, competente, séria, simpática. Os advogados frequentavam diariamente o cartório, não só para cuidar dos trabalhos forenses como para roda de conversa, atraídos pela eloquente prosa de Ulysses. Sempre tinha uma longa história para contar, cheia de minúcias, narradas na sua voz agradável; tartamudeava um pouco, tornando mais cativantes suas palavras, pausadas e entrecortadas pelo sorriso simpático e franco.
Político, membro do PSB, chefiado por Filinto Müller, gostava de recordar as campanhas eleitorais, com seus atos pitorescos. Certa vez, foi à fazenda de um eleitor importante, em reunião de muitas pessoas. Um alpendre comprido dava frente para o jardim bem cuidado, cheio de folhagens e rosa. O dono da casa já era idoso, mas forte
e desempenhado. No momento dos discursos, Ulysses toma a palavra e diz da sua satisfação em estar ali, em local tão aprazível, e dirigindo o olhar para a jovem quase menina que estava a sua frente, toda garbosa e alegre, comparou-a às rosas do jardim e advertiu que qualquer dia um mancebo chegaria, como príncipe encantado, e colheria aquela flor que desabrochava, levando-a para constituir nova família, que daria muitos netos ao coronel. Terminada a fala, descobriu que a moça era esposa, e não filha do dono da casa como pensara. Reuniu o pessoal e desapareceu sem despedidas.
Inteligente e com vocação literária, espírito formoso e correto na linguagem, colaborava nos jornais e revistas do estado com ensaios, crônicas e pronunciamentos políticos. As crônicas da cidade ele as reuniu no formoso livro “Camalotes e Guavirais”. Um trabalho bonito, deleitante, cheio de fino humor, em que expressa todo seu afeto por Campo Grande. Sem dúvida, uma das grandes obras da literatura guaicuru.
Com o nome pomposo de Ulysses Azuil de Almeida Serra, era um homem modesto. Apenas sua assinatura com os exagerados traços e alongamento de letras que usava, inclusive o “y” em lugar do “i”, cobria metade da página das certidões, invadindo o campo datilografado. Eu gostava de chamá-lo intencionalmente de Ulysses Azuil ou somente Azuil. Parecia gostar. Ele passou o tempo todo da sua vida a olhar o céu azul de seu nome. Permaneceu sempre jovem e atual.
Lembro-me de que, ao comentar grande donativo feito à Santa Casa por indivíduo um tanto antipático e carrancudo, que se preocupava com o imposto de renda mais do que com a benemerência, Ulysses, citando um dito popular ou de Talmund, observou-me que o bem deve ser praticado sempre com alegria.
Um homem marcante, de inconfundível valor moral e intelectual, falecido prematuramente, mas que vive ainda entre seus pares da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, que fundou e que a presidiu com experiência e arrojo.
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