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Comunidades indígenas do MT e MS se unem para fortalecer o etnoturismo

Encontro promovido pelo Sebrae reuniu representantes das etnias Haliti-Paresí, Terena e Atikum

Quinta-feira, 06 Novembro de 2025 - 14:32 | Sandra Salvatierre


Comunidades indígenas do MT e MS se unem para fortalecer o etnoturismo
A ação foi promovida pelo Polo Sebrae de Ecoturismo, que recebeu uma comitiva de Campo Novo do Parecis (MT) composta por representantes da Secretaria Municipal de Turismo e indígenas da etnia Haliti-Paresí, referência nacional na condução de atividades turísticas em territórios tradicionais. (Foto: Divulgação).

Bonito (MS) transformou-se, na última semana de outubro, em palco de um encontro entre culturas, saberes e experiências com um propósito comum: fortalecer o etnoturismo como instrumento de desenvolvimento sustentável e de valorização das tradições indígenas.

A ação foi promovida pelo Polo Sebrae de Ecoturismo, que recebeu uma comitiva de Campo Novo do Parecis (MT) composta por representantes da Secretaria Municipal de Turismo e indígenas da etnia Haliti-Paresí, referência nacional na condução de atividades turísticas em territórios tradicionais.

 

Na chegada, o grupo de Mato Grosso foi recebido por indígenas das etnias Terena e Atikum, de Nioaque (MS). A programação incluiu rodas de conversa no Polo Sebrae de Ecoturismo, visitas a atrativos como o Balneário Municipal de Bonito e o Estrela do Formoso, além de momentos de partilha sobre a forma como cada povo organiza seu turismo. Houve ainda apresentações sobre o modelo de gestão turística de Bonito, conduzidas pela Secretaria Municipal de Turismo (SECTUR), e um diálogo aberto sobre a estruturação de produtos turísticos autênticos, baseados em valores e ritmos culturais próprios.

“Foi uma experiência muito especial conhecer os Haliti-Paresí. A forma como eles preservam a cultura e se organizam para o turismo mostrou a força da união entre as comunidades. Isso nos trouxe um norte, porque estamos começando no etnoturismo e aprendemos que podemos valorizar o que temos em nosso território. Muitas vezes achamos que não é valioso, mas, para quem vem de fora, é uma grande riqueza conhecer nossa cultura, tradições e tudo o que o território Terena tem a oferecer”, destacou Thiago Souza, da Aldeia Cabeceira (etnia Terena), em Nioaque.

 

Para Nalva Atikum, da Aldeia Vila Atikum, a vivência foi profundamente significativa. “Esse encontro foi uma aula de conhecimentos, mostrando a importância de fortalecer e preservar nossa cultura, compartilhando práticas que valorizam o nosso modo de ser”, afirmou.

A atividade teve papel estratégico para os indígenas de Mato Grosso do Sul, que, com o apoio do Sebrae/MS e da Fundação de Turismo (Fundtur/MS), estão desenvolvendo um Plano de Visitação para as aldeias Brejão, Cabeceira, Água Branca, Taboquinha e Vila Atikum, todas em Nioaque. O trabalho, iniciado em janeiro deste ano, é conduzido por meio de uma consultoria voltada à preparação das comunidades para receber visitantes de forma estruturada, sustentável e autônoma. O lançamento do plano está previsto para 29 de novembro.

 

Para os Haliti-Paresí, o momento foi de reconhecimento e esperança. “Acreditamos que é possível transformar a vida do indígena sem perder nossa essência cultural. Muitas vezes só precisamos de oportunidades. Somos cidadãos brasileiros e temos direito ao desenvolvimento econômico em nosso território. Essa experiência com o Sebrae foi incrível, muito importante, com conhecimentos que vão impulsionar nossos projetos. Sou grato por essa oportunidade e peço que continuem empenhados junto aos nossos irmãos indígenas da região, para que possam implementar o etnoturismo em seus territórios, gerando renda e fortalecendo nossa cultura”, afirmou Adylson Muzuiwane, representante Haliti-Paresí.

O gerente da Regional Oeste do Sebrae/MS, Matheus Oliveira, destacou que a agenda foi um exemplo prático do papel da instituição em conectar realidades e estimular o aprendizado conjunto. “Essa visita nos permitiu aproximar os indígenas de Nioaque dos Haliti-Paresí, que são referência nacional. Trocamos experiências sobre como organizar o turismo nas aldeias, alinhar práticas internas e compreender desafios comuns, como gestão, divisão de valores e acolhimento aos visitantes. Foi um aprendizado valioso, que fortalece o plano de visitação em construção e mostra que o turismo pode ser uma ferramenta de união e desenvolvimento sustentável”, afirmou.

 

A visita técnica integrou a agenda de benchmarking do Polo Sebrae de Ecoturismo,  uma jornada de imersão e troca de experiências que busca aproximar gestores, empreendedores e comunidades de diferentes regiões que atuam com turismo sustentável. Segundo o gestor do Polo, Telcio Prieto Barboza, a iniciativa permite que os visitantes conheçam os produtos turísticos locais, compreendam o modelo de governança e troquem experiências com gestores públicos e privados. “O benchmarking tem como propósito aproximar pessoas e instituições interessadas em conhecer de perto a organização turística de Bonito e a gestão do ecoturismo na região”, explicou.

Para o diretor de Turismo de Bonito, Elias Oliveira Francisco, o encontro reforça o papel do município como referência nacional em turismo sustentável e inteligente, inspirando gestores e empreendedores de outros estados. “Nosso compromisso é compartilhar conhecimento e inspirar outros municípios a construírem um turismo que gera oportunidades, valoriza as pessoas e preserva o meio ambiente”, completou.


Pioneirismo Haliti-Paresí

O povo Haliti-Paresí, da região de Tangará da Serra (MT), destaca-se no turismo de base comunitária por meio do projeto Menane Haliti Etnoturismo, que abrange cinco aldeias: Arara Azul, Katyalarekwa, Oreke, Serra Dourada e 2 Cachoeira. Os indígenas recebem visitantes para roteiros com trilhas, oficinas, banho de rio, canto e dança, grafismo e imersão cultural. O projeto conta com agência receptiva instalada em Tangará da Serra e já possui anuência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

A gestão pública de Campo Novo do Parecis é parceira das comunidades, oferecendo suporte logístico e estrutural para o desenvolvimento das atividades. O coordenador de Turismo do município, Cláudio Roberto, ressalta que a valorização do etnoturismo é essencial para consolidar um turismo mais sustentável. “Mantemos uma grande parceria com a Funai, oferecendo toda a estrutura possível para apoiar as comunidades indígenas. Ajudamos na manutenção das estradas, na abertura de balneários e pontos turísticos, garantindo acesso e preservação ambiental. Trabalhamos juntos, com respeito à legislação e ao meio ambiente, para que o turismo aconteça de forma sustentável e gere oportunidades dentro das próprias comunidades.”

 

Outro importante parceiro é o Sebrae/MT. “O Sebrae Mato Grosso atua como articulador do etnoturismo no estado, apoiando povos indígenas e comunidades tradicionais na construção de experiências que unem cultura, economia e sustentabilidade. Ao alinhar suas ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Sebrae reafirma seu compromisso com um modelo de crescimento que respeita as identidades culturais e promove o desenvolvimento territorial”, explicou Wlademir Alves da Silva, gerente regional do Sebrae/MT em Tangará da Serra.

 

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