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Pesquisadores avançam em teste rápido e não invasivo para sífilis congênita
Nova técnica promete diagnóstico ágil e seguro
Segunda-feira, 06 Outubro de 2025 - 17:50 | Redação

Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desenvolveram um método inovador para diagnóstico rápido e não invasivo da sífilis congênita, usando saliva e tecnologia avançada de espectroscopia associada à inteligência artificial. A técnica promete agilizar a detecção precoce da doença, reduzindo riscos e custos, com impacto direto na prevenção de sequelas graves em bebês.
Em 2007, segundo dados do Ministério da Saúde, foram diagnosticados 5.638 casos de sífilis congênita no Brasil. Dezesseis anos depois, em 2023, esse número saltou para 25.002. As mães com maior prevalência da doença tinham entre 20 e 29 anos. A região Sudeste registrou o maior número de casos, com destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo. O aumento acompanha a tendência observada em outros países da América, continente com a maior incidência mundial da doença.
A sífilis é uma infecção bacteriana transmitida sexualmente. A sífilis congênita ocorre quando a mãe, com a doença não tratada ou tratada de forma inadequada, transmite a bactéria ao bebê durante a gestação, caracterizando transmissão vertical. “Eu trabalho na área da enfermagem pediátrica e vivo as dificuldades do controle da sífilis, que apesar de ter tratamento acessível e barato, vem aumentando em todo o mundo, afetando nossas crianças com sequelas graves devido a falhas na prevenção materna e dificuldade no diagnóstico precoce, já que a sífilis congênita é assintomática na maioria dos casos”, explica a bióloga Deise Cristina Dal’Ongaro, da Enfermagem do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh).
Essa vivência motivou Deise a propor um projeto no Mestrado em Saúde e Desenvolvimento da Região Centro-Oeste, da Faculdade de Medicina (Famed). Segundo ela, “o diagnóstico da sífilis congênita é um processo complexo e oneroso, que depende da junção de fatores como a história clínica materna, o perfil sintomático da criança e testes laboratoriais que demandam coleta invasiva ou manipulação específica de amostras, podendo gerar diagnósticos equivocados”.
A dissertação apresentada em 2025 foi orientada pela professora Daniele Soares Marangoni, do Instituto Integrado de Saúde (Inisa). “Tenho pesquisado o desenvolvimento neuromotor de bebês expostos à sífilis intraútero há anos. Confirmar casos de sífilis congênita é complexo, pois exige experiência médica e diversos exames. O teste padrão, VDRL, requer coleta de sangue e tem baixa especificidade, gerando custos e atrasos no tratamento”, avalia a docente.
A pesquisa identificou que bebês com sífilis congênita, sem diagnóstico e tratamento precoce, têm alto risco de disfunções neurológicas e sensoriais, como paralisia cerebral e alterações visuais. “Isso também traz impacto social e financeiro para as famílias, que passam a lidar com tratamentos médicos e de reabilitação prolongados”, destaca Daniele, que coordena o estudo e lidera o Baby Research Group on Brain Activity and Neuromotor Development in Brazil (Baby BRain).
A equipe buscou biomarcadores imunológicos específicos para o Treponema pallidum, optando pela saliva por ser de coleta não invasiva, de baixo custo e de fácil armazenamento. “A saliva é considerada uma biópsia líquida, refletindo alterações do organismo. Utilizamos a Espectroscopia por Transformada de Fourier (FTIR) com aprendizado de máquina para análise direta”, explica Deise.
O estudo contou com a participação de 100 bebês de até 12 meses, no Humap-UFMS/Ebserh, com amostras coletadas por swab estéril. As análises indicaram precisão de 90%, sensibilidade de 100% e especificidade de 80%, com erros atribuídos principalmente a diagnósticos falso-positivos. “O método provou ser robusto, sem gerar falso-negativos, o que é essencial em triagens”, acrescenta Deise.
Para ela, “o protocolo traz eficiência e confiabilidade, permitindo início precoce do tratamento, evitando danos e reduzindo custos hospitalares. É especialmente útil em áreas remotas onde métodos tradicionais não estão disponíveis”.
Os próximos passos incluem ampliar o número de amostras, validar biomarcadores em estudos longitudinais e desenvolver uma ferramenta portátil para diagnóstico em tempo real. “Nosso objetivo é disponibilizar o método globalmente para melhorar o atendimento a crianças com risco da doença”, finaliza Daniele.
O texto completo da dissertação pode se encontrado na página do Repositório Institucional da UFMS (clique aqui). Também foi publicado artigo no Scientific Reports, o quinto periódico mais citado no mundo.
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