Agropecuária
Com amor e respeito à natureza, casal é modelo na produção orgânicos na Capital
Moacir e Regina estão inseridos em programa que oferece ajuda técnica para produção de alimentos e está mudando paisagens e vidas
Sexta-feira, 20 Maio de 2022 - 20:30 | Valdelice Bonifácio

Antes do sol nascer Moacir de Souza Rodrigues, de 66 anos, e Regina de Oliveira, de 65, já estão trabalhando em meio às hortas. É assim desde que se casaram, há 40 anos. O amor e energia deles ao lidar com a terra parece influenciar as plantas. Tanto que o casal é apontado como exemplo na produção de orgânicos para comercialização em Campo Grande, MS.
Na propriedade deles, na região do Indubrasil, na Capital, o início do passeio pelas hortas já revela o porquê de tanta admiração. A qualidade das hortaliças é de encher os olhos. Além disso, o respeito à natureza é um deleite para o coração.
A produção do casal faz parte do programa Hortas Urbanas, da prefeitura em parceria com a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, a Agraer, aliás, órgão que exerce papel fundamental no sucesso das colheitas. Mais de 100 produtores estão inseridos no programa que tem estimulado a produção de alimentos com baixo impacto ambiental.




Moacir e Regina fazem com a área de pouco mais de um hectare seja altamente produtiva. Cultivam três tipos de alface, couve, agrião, coentro, rúcula, cenoura, beterraba, rabanete, brócolis, mandioca e outros. "A gente acorda às 3h, toma o café e vem lidar com as plantas. Antes do dia clarear já tem gente chegando para comprar. Só vendemos no atacado e aqui mesmo no local. Retiramos da terra, colocamos nas caixas e entregamos ao comprador", explica Regina.
O casal vive na área cedida pelo programa há 12 anos. E foi nela que debutaram na produção de orgânicos, o que só fez crescer a paixão e consciência de ambos pela força que vem da terra.
Moacir e Regina não se dedicam apenas a produzir para vender, querem também satisfazer a natureza. "Tem cliente que vem aqui e fica insistindo para comprar os mamões. Eu não vendo. Cultivo para os passarinhos comerem. Quero eles por perto", revela Moacir.




A presença dos pássaros é mais do que um enfeite na paisagem. As aves ajudam na limpeza das hortas recolhendo pequenos insetos e outras eventuais impurezas. O resultado é um cenário natural em perfeita harmonia com a produção de alimentos para o consumo humano.
Nos fundos da propriedade, eles conservam um recanto intocável. A floresta com várias espécies nativas está de pé à disposição dos tucanos, quero-queros, macacos e outros visitantes. Até jiboias passeiam vez ou outra pela área. "Tem que respeitar a natureza, tudo tem o seu lugar", sentencia Regina.
Dentro do Hortas Urbanas, os produtores são acompanhados de perto por técnicos da Agraer. Moacir e Regina são visitados com frequência pelo engenheiro agrônomo Sidney Kock desde 2017.




"Nosso papel é estar apostos para garantir a qualidade da produção. Sempre que os assistidos relatam a necessidade de corrigir o solo ou o aparecimento de alguma doença ou inseto prejudicial, por exemplo, a gente vem a campo estudar uma solução. No caso dos orgânicos, todas as ações tem que ser naturais", detalha o agrônomo.
Com a ajuda de Kock, o casal se tornou perito em soluções naturais caseiras para as plantas. Há um tempo atrás, Moacir e Regina combateram uma praga de origem desconhecida usando um preparo feito com pimenta de macaco e álcool. Regaram as mudas e foi o que bastou para que ficassem livres do mal.
Os produtores não têm números exatos da colheita e venda. Porém, na semana da visita da reportagem, eles tinham entregue, por exemplo, cerca de dois mil pés de alface e 260 de brócolis.




Os preços são baixos, o que desmente a falácia segundo a qual a produção de orgânicos é cara. A unidade de alface é vendida por R$ 1,50; a couve pelo mesmo valor; o brócolis por R$ 3,00 e o nabo a R$ 2,50. Vale relembrar que ele entrega o produto assim que retira da terra, sem nem mesmo lavar.
"Não faria sentido custar caro porque tudo o que usamos é natural, sem grandes despesas. Não consigo entender porque o preço é tão alto nos mercados para o consumidor final. Eu coloco valores acessíveis sonhando que o pobre também consiga comer orgânico, não só o rico. Desejo direitos de alimentação iguais para todos", enfatiza Moacir.
Segundo o experiente produtor, não existe terra ruim para cultivo algum. Porém, sempre é preciso estimular o solo para que fique fértil, o que ele faz naturalmente também. Sendo assim, conforme Moacir, o investimento não é caro. Ele usa cálcario para corrigir a acidez e materiais orgânicos para adubagem -- capim, compostagem, esterco de galinha e outros.




A vida do casal é 24h por dia na propriedade, plantando, cultivando, vendendo numa rotina de muitos afazeres e satisfação pessoal, além da financeira. "Nós acreditamos nesse trabalho e isso nos dá forças para continuar. Além disso, não temos queixas em relação à vida material. Compramos tudo o que precisamos à vista, e não temos dívidas."
Agraer sempre apostos - Na Agraer, as hortas urbanas são vistas como esperança para equilibrar a balança comercial no setor de alimentos da Capital. "Hoje, 70% de tudo o que se vende na Ceasa (Central de Abastecimento) vem de fora. Assim, as hortas urbanas são uma aposta para melhorarmos esse índice", explica o coordenador municipal da Agraer José Carlos Gasperoni.
Assim, a agência trabalha diariamente para fomentar as hortas. Os projetos têm finalidades variadas. Há plantações em instituições assistenciais, como o Asilo São João Bosco, em aldeia indígena, escolas públicas e produtores comerciais.

A assistência da Agraer começa antes mesmo do nascimento das hortas, pois em alguns casos, os técnicos orientam os produtores sobre o que produzir. Na sequência, começa a fase de avaliação e preparação orientada do solo.
Se precisar, a agência providencia o adubo, as sementes e até auxilia na busca por financiamento para o negócio. Por fim, os cultivadores das hortas também são ajudados nos projetos de venda.
O Ceasa tem um pavilhão exclusivamente voltado para a agricultura familiar. "Campo Grande é um polo que tem condições de crescer muito na produção de alimentos. Estamos trabalhando para isso", diz Gasperoni.

Área de lixão virou horta - Além de produzir alimentos, o programa é responsável por transformações na paisagem e na vida de pessoas. No Bairro Pioneiros, Valdeci Pereira Cabral, de 53 anos, produz hortaliças, emprega trabalhadores e doa alimentos para uma entidade assistencial próxima.
A área onde ele cultiva as hortas há 8 anos era um grande lixão que incomodava a comunidade. "As pessoas jogavam de tudo nessa área e o Município não tinha como fiscalizar. Um dia fui à prefeitura e fiz uma requisição. Lembro que eles mandaram drones e técnicos para fazer a vistoria. Ao final, fui atendido", diz.
Ele produz quiabo, jiló, couve, alface, coentro, cheiro verde, rúcula, agrião, mandioca e outros na área de pouco mais de um hectare. A vizinhança compra direto da horta, por preços inferiores aos praticados nos mercados.




Além disso, semanalmente Valdeci Pereira monta uma banca na Rua Ana Luiza de Souza para vender as mercadorias. Os produtores do Hortas Urbanas não pagam pelo uso da terra, mas precisam manter a área produtiva e limpa.
Valdeci conta com dois auxiliares para o serviço. Um deles é o jovem Carlos Daniel Lima, de 18 anos, que tem orgulho em lidar com a terra.
"Já trabalhei com outras coisas, mas saber que estou produzindo algo de qualidade para alimentar as pessoas deu um novo sentido à minha vida. Estou gostando muito", enaltece.




Quem vigia de perto a produção de Valdeci é o técnico da Agraer Marcos de Oliveira Pereira. As visitas frequentes estabeleceram um forte laço de amizade entre os dois.
"A cada 15 dias estou por aqui. Porém, estamos em contato sempre. Quando há alguma dúvida, ele fotografa e manda, e aí já começo o diagnóstico on-line, mas nunca dispensamos as visitas in loco."
Marcos Oliveira explica que para ajudar os produtores os atendimentos precisam ir além do auxílio para garantir o plantio correto e uma boa colheita. "O agricultor brasileiro é muito bom em lidar com a terra. Porém, por vezes, falta habilidade para comercializar. Então, temos que estar atentos a isso para indicar possibilidades de venda também", relata.




Um novo olhar sobre o Hortas Orgânicas – O programa Hortas Orgânicas está entrando numa nova fase de gestão. O empresário Adelaido Vila assumiu recentemente a Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio, Sidagro, pasta responsável pela execução do programa.
Segundo Adelaido, o programa é motivo de orgulho para a prefeitura e, por essa razão, será aperfeiçoado em sua gestão. “Será feito um estudo de todo o ciclo da produção”, antecipa.
Ele conta que cerca de 70 hectares em áreas públicas estão cedidas ao programa, beneficiando diretamente cerca de 500 pessoas. Em média, cada produtor cadastrado tem 500 m2 de terra para produzir. A distribuição das áreas respeita o Plano Municipal de Agricultura Urbana de Campo Grande.

A Sidagro também pretende atuar junto aos produtores na etapa da comercialização dos alimentos. A ideia é fortalecer o cooperativismo entre os assistidos.
Outra meta é atrair os jovens para o cultivo das hortas. Na entrevista abaixo, concedida em seu gabinete, Adelaido Vila faz apontamentos importantes sobre o programa e revela como será sua condução.
Capacitação pode abrir novas possibilidades aos produtores – Os produtores citados nesta reportagem Moacir, Regina e Valdeci aprenderam tudo o que sabem na lida diária, adquirindo experiências na prática. Porém, quem deseja obter conhecimentos na área e ampliar as possibilidades, como o aproveitamento de cascas que seriam descartadas, por exemplo, pode se capacitar e de graça.
O Sindicato Rural de Campo Grande tem extensa agenda de cursos previstos para este ano de 2022, em parceria com Senar e Sebrae. Até o mês de Setembro já estão agendados 30 cursos todos gratuitos. A média é de 12 alunos por turma. Acesse aqui a agenda.
Neste mês de Maio, por exemplo, uma ação foi realizada em frente à Sede do Sindicato no Chácara Cachoeira. As novas técnicas de beneficiamento foram repassadas por professores habilitados sem custo algum para os alunos.

Na ocasião do curso, a reportagem do Diário Digital entrevistou a produtora de alimentos Kátia Costa. Ela cultiva hortifrutis e folhagens na cidade de Terenos e veio à Capital para participar dos cursos.
“O que mais me encantou nesta capacitação foi aprender a reaproveitar. Podemos reaproveitar as cascas de muitos alimentos para fazer doces ou farinhas”, enalteceu.
O Sindicato Rural de Campo Grande fica localizado na Rua Raul Pires Barbosa, 116, no Bairro Miguel Couto. O telefone para mais informações é o (67) 3341-2696.
Abaixo mais imagens obtidas nas Hortas Urbanas de Campo Grande















Equipe Diário Digital
Reportagem e edição: Valdelice Bonifácio
Fotografia e vídeo: Luiz Alberto
Apoio logístico: Everton Cristaldo
Edição de vídeo: Beatriz Rodrigues
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