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Sérgio Cruz: a arte de escrever e preservar a história

Jornalista, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e testemunha do desenvolvimento de Campo Grande e MS

Terça-feira, 26 Agosto de 2025 - 10:00 | Issel Chaia


Sérgio Cruz: a arte de escrever e preservar a história
Sérgio Cruz, também conhecido pelo bordão "Pau na Mula!", durante entrevista sobre a capital sul-mato-grossense, Campo Grande. (Foto: Luiz Alberto)

Sérgio combina de encontrar com nossa equipe de reportagem em um ponto da cidade, marcado por diversas manifestações políticas e com um fato curioso. A Praça Ary Coelho foi o 1º cemitério de Campo Grande, sendo fechado no século XIX, mudando para onde atualmente é a Casa da Indústria e logo, para o Cemitério Santo Antônio. Os ossos dos ali enterrados foram baldeados. A área do Cemitério foi doada pelo vereador Armando de Oliveira, em 1914, sendo ele o primeiro enterrado ali, após ser assassinado.

Sérgio também relembra que, Ary Coelho foi o único prefeito de Campo Grande a ser assassinado durante o mandato, dentre quatro personalidades do estado com o mesmo fim. "O Ary Coelho foi o caso mais emblemático porque ele era uma figura muito polêmica e muito popular. Ele tinha todas as possibilidades de ser um "Pedrossian" da época, [...] se ele fosse governador", relembra. 

Segundo Cruz, havia uma movimentação advinda da própria população para que Coelho fosse candidato à governador nas eleições de 1974. Todavia, armaram uma conspiração contra ele e o assassinaram com um tiro na testa. "Aqui que ele fazia os comícios", pontua. Em sua estátua, uma das placas que o homenageavam foi removida, arrancada por alguém que provavelmente não conhece sua história. 

Sérgio Cruz: a arte de preservar a história
(Foto: Luiz Alberto)

A praça ainda guarda dois pés de Jequitibá que, conforme Cruz, foram plantados no dia 7 de Setembro de 1922, na época do prefeito Arlindo de Andrade Gomes, em comemoração aos 100 anos da Independência do Brasil. 

"Veio uma recomendação do Rio [de Janeiro] para que cada um fizesse um monumento à Dom Pedro e, em vem do monumento ele plantou as árvores. Foi no mato, ele e o secretário dele, e trouxeram as mudas e plantaram", afirma. Gomes sendo o primeiro prefeito de Campo Grande, quem arborizou as Avenidas Afonso Pena e a Mato Grosso, com árvores de sua chácara, localizada no atual Hospital do Câncer, em 1923. No ano seguinte, a primeira usina hidrelétrica foi inaugurada, no Córrego Ceroula.

Questionado sobre o desenvolvimento de Campo Grande como capital de Mato Grosso do Sul, Cruz afirma que "já era esperada, Campo Grande nunca foi uma surpresa, sempre foi uma cidade muito previsível. O que vem acontecendo aqui foi previsto pelo próprio José Antônio Pereira quando ele veio pra cá […] Ninguém segura Campo Grande", relata.

Sérgio Cruz: a arte de preservar a história
Livro traça linha do tempo da história de Campo Grande (Foto: Reprodução)

Uma de suas obras literárias, o livro "Campo Grande, 150 anos de história", lançado em 2022, com quase 500 páginas, traça uma linha do tempo, desde a chegada de José Antonio Pereira, em 21 de Junho de 1872, até os dias atuais, com a chegada da COVID-19. No prólogo do livro, Cruz destaca a bandeira de Campo Grande, trás dois anos distintos, 1872 e 1899, sendo respectivamente a chegada do pioneiro e a data da emancipação política da cidade.

>> É possível adquirir o livro impresso e o e-book, clicando nos respectivos links. 

Em seu livro, Cruz rememora que transeuntes da Guerra do Paraguai apontaram ao pioneiro que no encontro do Prosa e Segredo, os dois afluentes do Rio Anhanduí, construiu a sua primeira roça, fez um boteco, voltou pra Minas Gerais, e em 14 de Agosto de 1975, veio de mudança para a região com sua família. 

Mesmo sendo um "sem-terra", habitou a área, que posteriormente foi doada pelos donos, à Santo Antônio, que eram de uma família de Miranda, cerca de 3.600 hectares, em 1887. “O José Antonio Pereira foi o primeiro que veio e colonizou, com a fazenda lá onde é o museu. Quando ele morreu morava na Barão de Melgaço”, destaca. 

Sérgio Cruz: a arte de preservar a história
Momentos históricos são relatados na obra  (Foto: Reprodução)

Sérgio Cruz - Sérgio Manoel da Cruz, nasceu em Salgueiro, Pernambuco, em 06 de Agosto de 1942, e mudou-se aos oito anos para o interior de São Paulo. Formou-se bacharel em Ciências Econômicas, pela Associação Mariliense de Ensino, em 1958, em Marília (SP). Também é formado em Ciência Política pela Uninter (PR).

Em 1960, Sérgio Cruz chegava ao interior do velho Mato Grosso, mais precisamente em Dourados, onde trabalhou na sua primeira estação, o Rádio Clube, como radialista. Ainda, passou pela Rádio A Voz D'Oeste, em Cuiabá (MT), e chegando na cidade de Campo Grande, em 1963, para trabalhar na Rádio Difusora. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, assim como na TV MS Record.

Com o golpe militar de 1964, sai da cidade morena e retorna em 1968, onde segue vivendo até então. Sérgio viu na política uma maneira de lutar contra a ditadura, tentando ser eleito prefeito de Campo Grande por duas vezes, em 1976 e em 1985, sem sucesso. Porém, foi eleito como Deputado Estadual (1975-1979) por Mato Grosso, participou no movimento divisionista para criação de Mato Grosso do Sul, em 1977, sendo eleito novamente como Deputado Estadual (1979-1983) por Mato Grosso do Sul. Ainda, foi eleito como Deputado Federal (1983-1987), e agora está na política apenas "comentando".

Sérgio Cruz: a arte de preservar a história
Sérgio Cruz chegou a Campo Grande, em 1963, para trabalhar na Rádio Difusora (Foto: Luiz Alberto)

Há dois meses, Sérgio estava como locutor na Rádio Difusora, entretanto, está trabalhando com pesquisas voltadas para o resgate da história, como sendo, a cadeira nº 22 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, associado ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS), filiado a Associação Nacional de História (ANPUH) e à Associação Brasileira de Ciências Políticas (ABCP). Ainda, vem se dedicando a um programa, juntamente com a TV Assembleia, com foco em fatos históricos.

Além da sua obra, "História da Fundação de Mato Grosso do Sul", livro lançado em 2023, em meio ao Festival de Inverno de Bonito, no dia 22, lança seu mais recente livro, "As duas guerras de Bento Xavier - o Maragato", sobre a divisão do estado, gaúcho participante da Revolução Federalista e que veio para a região, após não obter êxito, e organizou um movimento para incluir a divisão do estado no movimento de independência da região sul do país, o que também não conseguiu. "Eu escrevi a história dele porque ele foi o primeiro coronel do sul a se rebelar contra os coronéis do norte", ressalta.

Sendo ele "testemunha", fazendo parte da Comissão de Acompanhamento do Processo de Divisão de Mato Grosso, na Assembleia Legislativa de Cuiabá (MT), assistiu a sanção da Lei em Brasília, sendo participante do movimento divisionista, mesmo com a opinião contrária dos opositores.

Sérgio Cruz: a arte de preservar a história
Livro revela bastidores da fundação do Estado (Foto: Wagner Guimarães/ALEMS)

"Agora, o que estou tentando fazer é mostrar a gênesis do movimento divisionista, como nasceu, porque as pessoas entendem a história de Mato Grosso do Sul a partir de 1977, como se não tivesse nada aqui, fosse um vácuo, e houve toda uma mobilização", afirma, Cruz.

Cruz recorda de uma frase de seu pai, que faleceu aos 75 anos, que você morre quando acabam seus projetos, e pretende manter seus projetos vivos, sem ambição: “Escrever mais, editar mais matéria, de material que eu tenho que não virou livro. Escrever um romance, que eu nunca escrevi, né? Eu só escrevo história. Escrever um livro de poesia, que eu também nunca escrevi. Todos esses projetos que são devaneios que, na verdade, o que eu faço é uma atividade profissional, editando livros, na área que eu escolhi que foi exatamente a história de um estado. As pessoas não conhecem a história", conclui. 

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