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Educação sexual e prevenção ao bullying

Especialista alerta para a importância da abordagem desde a infância

Segunda-feira, 22 Setembro de 2025 - 07:35 | Luiza Ferraz


Educação sexual e prevenção ao bullying
O professor não é apenas um transmissor de conteúdo, mas um agente de escuta e acolhimento. (Imagem: Reprodução)

Para Marcella Jardim, educadora sexual, educadora física, sexóloga, psicanalista e professora de filosofia, a educação sexual desde a infância é fundamental porque "vai muito além de falar sobre sexo". Em entrevista, ela explica que este tipo de educação "ensina respeito, limites, autocuidado e a importância do consentimento". Segundo a especialista, quando a criança aprende a reconhecer o próprio corpo e a diferenciar um toque de carinho de um abusivo, "ela já está sendo protegida".

A abordagem deve ser adaptada para cada faixa etária: na infância, trabalhar temas como respeito ao corpo e limites; no início da adolescência, incluir mudanças corporais e autoestima; e na fase adolescente, ampliar para relacionamentos e consentimento. "Não se trata de impor conteúdos, mas de criar um espaço seguro de diálogo", afirma Jardim.

Bullying: da brincadeira à violência sistemática

O caso recente também evidencia a gravidade do bullying escolar, que muitas vezes é subestimado. A especialista diferencia uma brincadeira de mau gosto ao bullying pela "intensidade e repetição". Enquanto a primeira pode ser resolvida com diálogo, o bullying envolve agressão "repetitiva e intencional, gerando sofrimento para a vítima".

Os sinais de que uma criança ou adolescente está sofrendo bullying incluem mudanças comportamentais repentinas, queda no rendimento escolar, queixas físicas para evitar a escola, e marcas ou objetos danificados sem explicação clara.

Desafios e tabus

Os principais obstáculos para abordar esses temas, segundo Jardim, ainda são o tabu e a desinformação. "Muitos pais e educadores têm medo de falar sobre sexualidade por acreditarem que isso 'antecipa' algo", observa. Ela ressalta que é preciso "capacitar educadores e acolher os pais" para entender que falar de sexualidade é falar de respeito, proteção e saúde.

Impactos de longo prazo

As consequências do bullying podem ser severas e duradouras. A especialista alerta que pode gerar "baixa autoestima, ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas". Academicamente, a vítima perde a motivação para aprender e apresenta queda no rendimento. “A longo prazo, os impactos podem permanecer na vida adulta, afetando relacionamentos, confiança e projetos de vida.”

Papel da escola e da família

Marcella defende que as escolas precisam ir além das palestras pontuais e implementar "projetos contínuos de convivência e respeito", incluindo trabalhar a empatia em sala de aula, criar canais de escuta e formar professores para identificar e intervir rapidamente.

Os pais, por sua vez, devem "estar atentos aos sinais e criar um espaço de confiança para o diálogo". Se o filho for vítima, é crucial "acolher, apoiar e buscar a escola para mediar a situação". Se for agressor, é fundamental "não negar o problema, mas buscar entender a origem do comportamento".

Conexão entre educação sexual e prevenção ao bullying

A educação preventiva e sexual pode ajudar a diminuir a incidência de bullying porque, ao trabalhar esses temas, "falamos de respeito, empatia e limites". Crianças e adolescentes aprendem a respeitar o corpo do outro e entendem que "ninguém pode ser humilhado ou violentado por ser diferente".

O professor como guia

Na visão da especialista, o professor moderno não é apenas um transmissor de conteúdo, mas um "agente de escuta e acolhimento" que deve "observar, abrir espaço para diálogos, identificar sinais de sofrimento e, quando necessário, encaminhar para apoio".

O recado mais importante da especialista para pais e educadores é claro: "Educar é proteger. O silêncio não protege, pelo contrário: abre espaço para a desinformação, o medo e a violência". Ela finaliza com um apelo: “Escutem seus filhos e alunos. Eles estão falando o tempo todo, basta querer ouvir.”

O caso da adolescente agredida mortalmente serve como triste lembrete de que a prevenção e a educação continuam sendo as ferramentas mais poderosas para proteger crianças e adolescentes e construir ambientes escolares verdadeiramente seguros e acolhedores.

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