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Casa do Migrante fortalece acolhimento e amplia atuação humanitária em Corumbá

Serviço da Prefeitura oferece abrigo, alimentação e orientação a estrangeiros que chegam pela fronteira com a Bolívia

Quinta-feira, 16 Outubro de 2025 - 16:00 | Sandra Salvatierre


Casa do Migrante fortalece acolhimento e amplia atuação humanitária em Corumbá
A chegada dos migrantes ocorre de diferentes formas: alguns entram no país de maneira regular, passando pela Polícia Federal, enquanto outros vêm diretamente à Casa, que já é conhecida internacionalmente. (Foto: Renê Marcio Carneiro).

A Casa do Migrante, mantida pela Prefeitura de Corumbá por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, tornou-se uma das principais portas de entrada e acolhimento humanitário para estrangeiros que chegam ao Brasil pela fronteira com a Bolívia. Localizada na rua Dom Aquino, n° 884, a instituição oferece abrigo, alimentação, orientações sobre documentação e encaminhamentos sociais a centenas de pessoas que atravessam o limite internacional em busca de refúgio, trabalho ou recomeço.

“A função da Casa é gigantesca. Fazemos o acolhimento e oferecemos toda a orientação necessária para que o migrante siga viagem com segurança ou possa permanecer em Corumbá com dignidade”, afirma o coordenador Iber Mosciaro Gomes. O espaço dispõe de estrutura de alojamento, três refeições diárias e suporte para regularização de documentos e deslocamento.

A chegada dos migrantes ocorre de diferentes formas: alguns entram no país de maneira regular, passando pela Polícia Federal, enquanto outros vêm diretamente à Casa, que já é conhecida internacionalmente. “Muitos já sabem da existência da Casa antes mesmo de chegar. Recebemos pessoas que vêm com nomes e contatos anotados, indicando que o serviço é referência entre comunidades migrantes”, explica Gomes.

Segundo a psicóloga Gislaine Melise Aguiar da Conceição, integrante da equipe técnica, o WhatsApp é um dos principais meios de comunicação entre os estrangeiros. “Eles se organizam em grupos e compartilham informações sobre onde podem encontrar abrigo e orientação. Muitos chegam sem documentação regular e procuram aqui o primeiro apoio para entender como se regularizar”, afirma.

O atendimento inclui explicações sobre procedimentos exigidos pela Polícia Federal, como pedido de residência, refúgio ou autorização de permanência temporária. Em casos específicos, o migrante é orientado a registrar boletim de ocorrência, que pode garantir até 60 dias para regularização. Países como Venezuela e Haiti têm acordos humanitários que facilitam o processo; já em casos de colombianos, é necessário retornar à origem para regularizar a documentação antes de entrar no Brasil.

A Casa mantém acolhimento prioritário para famílias com crianças, enquanto pessoas sozinhas são encaminhadas à Casa de Passagem, na rua Edu Rocha. O fluxo de atendimento é constante e variável: há dias em que o abrigo recebe até 30 pessoas, em outros, 10. “As famílias vêm e vão conforme resolvem suas situações. Algumas permanecem por uma semana, outras por mais de um mês, dependendo da documentação e das condições financeiras”, detalha Gomes.

Os principais destinos dos migrantes são estados do Sudeste e cidades como Campo Grande e Dourados, onde existem comunidades venezuelanas organizadas. Cresce também o número de colombianos e pessoas deportadas dos Estados Unidos que reingressam na América do Sul pelo território boliviano, fenômeno recente acompanhado pela equipe.

Entre as histórias de superação, destaca-se a do casal venezuelano Yosbelys Leal, contadora, e José Vicente Herrera, motorista de máquinas pesadas, que chegou a Corumbá com a filha de 11 anos após percorrer parte do trajeto a pé até o Brasil. “Graças a eles, pelo atendimento que nos deram, temos trabalho e moradia. A vinda ao Brasil é a esperança de melhorar”, relatou Yosbelys.

Desde janeiro, cerca de 1.700 migrantes passaram pela Casa do Migrante, segundo estimativa da coordenação. A instituição mantém parcerias com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Defensoria Pública da União, Polícia Federal, Pastoral do Migrante e Organização Internacional para as Migrações, entre outros órgãos e entidades.

O espaço funciona 24 horas por dia, com equipe de 13 profissionais, incluindo técnicos, cuidadores, cozinheiro, motorista e equipe administrativa. Em breve, contará com uma nova sede, financiada por emenda parlamentar da deputada Camila Jara (R$ 1,6 milhão) e repasse federal de R$ 800 mil para mobiliário. A nova Casa será instalada em imóvel próprio da Prefeitura, entre as ruas Dom Pedro II, 21 de Setembro e Luís Feitosa Rodrigues, oferecendo estrutura ampliada para acolher famílias e crianças.

“Estamos otimistas. A nova casa representa um avanço fundamental na política de acolhimento em Corumbá”, afirma Gomes. Mais do que um abrigo, a Casa do Migrante se consolidou como espaço de solidariedade e reconstrução. “Cada pessoa que passa por aqui traz uma história de coragem e esperança. Nosso trabalho é garantir que esse recomeço seja feito com dignidade”, conclui a psicóloga Gislaine.

 

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