Economia
Seis em cada 10 brasileiros não têm nenhuma reserva para a aposentadoria
Dados revelam um problema comportamental enraizado — a incapacidade de planejar o futuro em meio às pressões do presente
Segunda-feira, 24 Novembro de 2025 - 16:50 | Agência Brasil

Uma pesquisa inédita realizada pela Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN), em parceria com o Instituto Axxus, intitulada Pesquisa ABEFIN: Aposentadoria, INSS e Previdência Privada a realidade em 2025, escancara uma realidade preocupante: a maior parte dos brasileiros economicamente ativos não está preparada para a aposentadoria. Mais do que números frios, os dados revelam um problema comportamental enraizado — a incapacidade de planejar o futuro em meio às pressões do presente — e a quase ausência de orientação financeira ao longo da vida.
A pesquisa ouviu 600 trabalhadores em todo o país, com margem de erro de 4% e índice de confiança de 95%. A amostra reflete bem o mercado de trabalho: dos 78,3 milhões de trabalhadores brasileiros em 2025, metade está na formalidade (CLT ou CNPJ) e metade na informalidade. Esse dado já é, por si só, um alerta. A contribuição regular para a Previdência Social ou para planos privados fica comprometida quando 49,7% da força de trabalho sobrevive em condições precárias, sem vínculo empregatício fixo.
O retrato do agora: ausência de reservas e insegurança - Entre os entrevistados, 62% afirmaram não guardar nenhum recurso para a aposentadoria. Isso significa que, de cada 10 brasileiros em idade produtiva, seis vivem apenas do presente, sem qualquer preparo para o futuro. Entre os 38% que economizam, há dispersão: 31% citam o INSS, 42% a previdência privada e 38% outras formas de reserva, como poupança, imóveis ou investimentos.
Mas mesmo entre os que poupam, predomina a incerteza. Apenas 19% dos que investem em previdência privada acreditam que terão condições de manter uma vida financeira saudável sem depender de terceiros. Outros 38% reconhecem que terão de continuar trabalhando para sustentar seu padrão de vida. O medo de envelhecer sem recursos está tão presente que só 7% dos que contribuem com o INSS acreditam que o benefício será suficiente para viver com dignidade.
Vulnerabilidade imediata: reservas que mal passam de três meses - Outro dado chama a atenção: 41% dos entrevistados afirmaram que, se perdessem a renda hoje, conseguiriam manter o padrão de vida por menos de três meses. Outros 39% resistiriam de três a seis meses. Ou seja, 8 em cada 10 brasileiros não têm reservas mínimas para enfrentar meio ano sem renda.
“Esse quadro expõe um país extremamente vulnerável. A ausência de um colchão financeiro de segurança não impacta apenas a aposentadoria futura, mas também a capacidade de lidar com crises inesperadas — como desemprego, doenças ou emergências familiares”, alerta o presidente da ABEFIN, Reinaldo Domingos.
O espelho dos pais: ciclo de dependência intergeracional - A pesquisa também investigou a situação financeira dos pais dos entrevistados, e os resultados ajudam a entender por que os filhos seguem o mesmo caminho. Entre os que já são aposentados, 29% dependem financeiramente dos filhos ou de terceiros. Outros 41% continuam trabalhando, mesmo após o fim da vida laboral formal.
“Esse cenário perpetua um ciclo de dependência intergeracional: os mais velhos, sem reservas suficientes, precisam do apoio dos filhos, que por sua vez já enfrentam dificuldades para organizar a própria vida financeira. Assim, a roda da vulnerabilidade continua girando”, explica Reinaldo Domingos.
Falta de dinheiro ou falta de preparo? Ao serem questionados por que não contribuem para o INSS, 87% responderam simplesmente: falta de dinheiro. Esse dado revela que o problema não se limita à descrença no sistema previdenciário, mas à ausência de margem financeira para planejar.
Entretanto, os números indicam também um fator comportamental. Muitos entrevistados demonstram descrença em relação ao futuro, preferindo consumir no presente em vez de poupar. Psicólogos chamam esse fenômeno de “desconto hiperbólico”: a tendência de valorizar recompensas imediatas em detrimento das de longo prazo. É um traço humano, mas que no Brasil se soma à escassez de renda e à falta de informação, formando uma combinação explosiva.
A grande lacuna: educação financeira inexistente - Talvez o dado mais alarmante da pesquisa esteja na área da educação financeira. Nada menos que 95% dos entrevistados nunca receberam nenhuma orientação sobre aposentadoria. Entre os poucos que tiveram algum contato com conteúdos sobre o tema, 98% disseram que o aprendizado não foi suficiente para organizar uma vida financeira sustentável.
Segundo o presidente da ABEFIN, “esse dado revela que, embora a aposentadoria seja uma preocupação concreta, os brasileiros simplesmente não sabem por onde começar. Falta informação prática, acessível e aplicável ao dia a dia. Em outras palavras: mesmo quando existe renda, falta comportamento”.
O desafio da informalidade - A informalidade, que atinge quase 39 milhões de trabalhadores, é outro obstáculo estrutural. Sem contribuição regular, essas pessoas ficam excluídas tanto do INSS quanto de planos de previdência privada que exigem aportes mensais. Além disso, trabalhadores informais têm renda variável, o que dificulta o compromisso de longo prazo.
Soluções de contribuição flexível, adaptadas a essa realidade, poderiam reduzir a exclusão. Micro-poupança automática, planos simplificados e uso de ferramentas digitais como o PIX são caminhos possíveis para incluir essa parcela da população.
Consequências sociais de um futuro mal planejado - Os impactos de uma aposentadoria insuficiente vão muito além do indivíduo. Idosos sem renda ou com renda baixa aumentam a pressão sobre filhos, parentes e sobre o sistema público de assistência. A tendência é de que mais pessoas precisem continuar trabalhando na terceira idade, muitas vezes em condições precárias.
Além do aspecto econômico, há efeitos psicológicos e de saúde. O medo constante da falta de recursos pode gerar ansiedade e estresse, agravando problemas de saúde e elevando os custos com o sistema público.
O que a pesquisa nos ensina - O estudo da ABEFIN deixa claro que o problema da aposentadoria no Brasil não é apenas estrutural — como o equilíbrio das contas do INSS ou a rentabilidade dos fundos privados. O maior desafio é comportamental.
Sem educação financeira, a população não cria o hábito de poupar, não define metas de longo prazo e não aproveita de forma eficiente os produtos disponíveis. Mesmo quem investe, investe mal ou insuficientemente, porque não sabe planejar.
Essa constatação traz um insight poderoso: nenhum sistema previdenciário será sustentável se os cidadãos não forem educados financeiramente para usá-lo corretamente.
Caminhos possíveis
Resolver o problema exige uma combinação de ações:
- Educação financeira desde cedo, nas escolas, como parte da formação básica de cidadania.
- Campanhas de comunicação segmentadas, adaptadas ao perfil de cada trabalhador — jovens, informais, CLT, profissionais autônomos.
- Produtos financeiros flexíveis, que permitam contribuições pequenas e irregulares, mas consistentes ao longo do tempo.
- Automatização das contribuições, reduzindo a dependência da disciplina individual e aproveitando mecanismos comportamentais, como descontos automáticos em folha ou aportes vinculados a pagamentos digitais.
O futuro em jogo - Segundo Reinaldo Domingos, a pesquisa é um alerta: se nada mudar, o Brasil continuará produzindo gerações que chegam à velhice sem segurança, dependentes de familiares ou obrigadas a trabalhar até o fim da vida.
Mais do que uma questão econômica, trata-se de um problema cultural e educacional. É preciso mudar a mentalidade de que a aposentadoria é um problema distante. O futuro começa agora — e cada real poupado hoje pode ser a diferença entre uma velhice digna e uma vida de privações amanhã.
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