Artista põe história e tradições regionais em esculturas gigantes

Quem circula por Campo Grande (MS) certamente já se deparou com a história, folclore, religiosidade, tradições e cultura da Capital em forma de esculturas gigantes concebidas pelas mãos do artista plástico Anor Pereira Mendes, de 72 anos. Foi ele quem fez, por exemplo, o Cavaleiro Guaicuru, ponto de referência do Parque das Nações Indígenas, nos altos da Avenida Afonso Pena. Porém, ao longo desta matéria feita em homenagem ao aniversário de 126 anos da cidade, serão apresentadas outras importantes de obras de autoria do artesão (como ele prefere ser chamado).

Anor se descobriu artista plástico aos 21 anos. "Quando eu estava no Exército eu desenhava os mapas para instrução. Então, eu já tinha essa habilidade de desenhar. Porém, depois que saí do Exército, eu encontrei um amigo que fazia esculturas. Ele me incentivou a fazer. Aí fui começando, primeiro com argila e arenito e depois com madeira", relembra.

Desde então, lá se vão quase 50 anos dedicados à criação de esculturas artesanais. Ele não sabe a quantidade certa dos trabalhos que já fez, apenas que são muitos e, embora Campo Grande, concentre as mais famosas, as peças enfeitam os espaços públicos e privados em várias cidades de MS, de outros estados e, inclusive de outros países como Itália, Israel e Paraguai. "A arte não cansa. Ainda quero fazer muita coisa", planeja.

Ao longo dos anos, Anor aperfeiçoou seu trabalho. Atualmente, esculpe suas obras com uma massa plástica desenvolvida por ele próprio. Trata-se de uma resina de poliéster com areia e pó de mármore. "Depois que a imagem seca, ela fica tão dura como quando se esculpe em uma pedra maciça", compara o artista enquanto esculpe um novo trabalho em seu ateliê, no Bairro Coophasul, na Capital.

Para Anor, seu trabalho como artesão é um propósito, não apenas uma carreira ou um negócio. "Nenhuma das minhas esculturas é meramente decorativa. Meu trabalho é expor a história, folclore, religião e cultura", afirma. Isso, de fato, ele conseguiu. Muito da identidade de Campo Grande pode ser vista nas esculturas feitas por ele, basta uma rápida contemplação.

Além do Cavaleiro Guaicuru, também foram feitas por ele a indígena na entrada do Mercadão Municipal, O Aprendiz, na rotatória da Coca-Cola, entre as avenidas Gury Marques e Interlagos, a Guampa gigante de tereré, próxima ao Aeroporto Internacional, o Papa, na Praça do Papa,  a Deusa da Justiça, dentro do Tribunal de Justiça, e a artesã, na Praça dos Imigrantes.

Essa última, aliás, tem um significado muito especial para Anor. "Aquela artesã tem a fisionomia da minha esposa quando nos casamos", afirma. A homenagem é mais do que merecida. Dona Edma Mendes faleceu em 14 de Abril 2023, poucos dias antes de completar 49 anos de casada com Anor. "Eu era o escultor por causa dela. Muito do que eu fiz foi porque ela me ajudou e me incentivou a fazer", revela.

A escultura foi uma solicitação dos artesãos da praça que queriam um chamariz no local. Assim, ele foi solicitado e concebeu a artesã ensinando o ofício à filha dela, imagem que representa as tradições da terra sendo transmitida às novas gerações.

O trabalho de Anor é autoral em sua maioria. E os espaços para divulgar sua obra, ele próprio conquistou. "E não teve concorrência. Eu sonhava com uma determinada escultura. Aí, eu propunha e fazia", relata. Foi assim que o Cavaleiro Guaicuru ganhou vida nas mãos de Anor. "Eu era apaixonado por aquela figura que eu via quando criança nos livros de história. Eu ficava desenhando. Um dia (no ano de 2004) eu fui a uma festa em que o secretário de Estado Márcio Portocarrero estava lá. Eu o abordei e sugeri fazer. O governo aceitou". relembra.

A ideia foi considerada perfeita para dar ao Parque uma caracterização das Nações Indígenas. A Enersul patrocinou a obra. A escultura ficou pronta em 60 dias. O Cavaleiro Guaicuru tem sete metros de comprimento por quatro de altura e pesa cerca de 1,2 mil quilos. A armação de ferro é revestida com a mistura de resina e pó de mármore desenvolvida por Anor. Na ocasião da entrega da escultura, em 18 de Junho de 2004, o então governador Zeca do PT lançou a retomada das obras do Parque das Nações Indígenas que estavam inacabadas.

Já a Guampa do Aeroporto tem relação com um gosto pessoal de Anor. "Eu tomo tereré desde que larguei a mamadeira. Gosto de tudo relacionado à erva mate. Então, nasceu a ideia como forma de homenagear as tradições sul-mato-grossenses sendo ainda uma atração para os turistas ", menciona.

A escultura pesa 300 quilos e é feita de armações de ferro e da bem-sucedida mistura de resina e areia. Arnor levou cerca de um mês para confeccionar a guampa que foi inaugurada em 27 de Dezembro de 2014. O patrocínio veio do  Fundo de Investimentos Culturais (FIC).

Auge como artesão - Anor Pereira Mendes renova suas energias e criatividade em cada obra que executa. Recentemente, ele sentiu-se no auge da produção ao finalizar um conjunto de esculturas feitas sob encomenda para uma moradora de São Gabriel D´Oeste.

São quatro esculturas gigantes e de beleza visual impressionante. Uma delas representa a Pietà  - Maria com Jesus morto em seus braços -- e três anjos enormes (com seis metros de altura) no entorno deles. O conjunto de obras finalizado em Julho deste ano já foi entregue à dona da encomenda, mas a foto acima permite apreciá-lo.

Um fato interessante é que durante a confecção do conjunto de esculturas, a silhueta de um anjo apareceu em uma garrafa de gelo, fato que o artista considerou mais uma confirmação de sua vocação e propósito na terra. "Ficamos todos muito admirados", conta. "Um sinal que veio de cima", acredita.

Antes de encerrar a entrevista, ele entrega um segredo. "As minhas esculturas têm mensagens subliminares que vão ser percebidas daqui a algum tempo. Se alguém se sentir atingido, espero ainda estar aqui para saber", considera.

Além das ruas, o trabalho do artista também pode ser apreciado em suas redes sociais: @anor.mendes/ e Anor Mendes.