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Alice criou associação para dar voz a quem não tem
Quarta-feira, 13 Março de 2019 - 13:58 | Redação
Além de ser Miss Plus Size MS 2014, modelo Plus Size do Ateliê de noivas Márcio Rocha, acadêmica do curso de Educação Física, palestrante e intérprete de LIBRAS, a jovem Alice do Nascimento, de 34 anos, também é fundadora da Associação Estadual de Deficientes da Audição (AEDA). Esta mulher, que é mãe e esposa de deficientes auditivos, decidiu agir quanto à falta de informação, respeito às leis e principalmente acessibilidade da pessoa surda encontrados em todo o território nacional e hoje ensina a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) gratuitamente na periferia de Campo Grande.
Iniciado na última quinta-feira (07) crianças, jovens e adultos se reúnem na Paróquia São João Calábria, localizada no Jardim Canguru, para aprender a Língua Brasileira de Sinais. No Brasil a LIBRAS é reconhecida como segunda língua oficial do país desde 2002, mas ainda é pouquíssima ensinada à população. De acordo com Alice o curso oferecido na periferia da Capital não tem caráter obrigatório, mas ainda assim foi muito procurado pela comunidade em geral.
“Se você pega um curso desse e abre pra população, e quando eu falo abrir é sem faixa etária, você tem uma procura muito grande de famílias que não tem surdo e que querem aprender LIBRAS, isso sim é inclusão. O que me deixou abismada é que quem procura a AEDA não são familiares de surdos, são cidadãos comuns que estão indo atrás desta comunicação porque sabem a importância de se receber bem uma pessoa, de conversar com um surdo, de saber atender uma pessoa dessas. E a necessidade é grande” conta Alice surpreendida com a procura das suas aulas de LIBRAS, são pelo menos 100 alunos que se reúnem uma vez na semana para aprender a língua de sinais.
Desde o ano de 2009 empresas são obrigadas a ter 5% de empregados intérpretes em LIBRAS, o que também não acontece até os dias atuais. O prazo de adaptação a esta lei foi encerrado em 2015, mas até hoje (2019) a dificuldade comunicacional de deficientes auditivos em bancos, hospitais, cartórios, delegacias e outras inúmeras instituições é muito grande.
Por exemplo, um alvará de funcionamento só pode ser expedido quando é provada a acessibilidade predial e comunicacional do estabelecimento, “a LIBRAS é a segunda língua oficial do Brasil, então ela deve ser obrigatória em todos os estabelecimentos com alvará de funcionamento. Os surdos não sabem disso! Se eles pegarem esta legislação, irem até a prefeitura e reclamarem da falta de acessibilidade comunicacional no Município, Campo Grande para” lamenta a intérprete.
E do desejo de uma mulher em explanar para quem realmente precisa saber de seus direitos desconhecidos perante a sociedade comum, surgiu a Associação Estadual de Deficientes da Audição (AEDA). O objetivo não é impor a lei e fechar estabelecimentos desobedientes, mas oferecer em contrapartida soluções que incluam a comunidade. Ensinar e expor a importância do aprendizado em LIBRAS, da inclusão e da acessibilidade para que todos tenham qualidade de vida.
Surdo unilateral, Enzo do Nascimento, filho de Alice, tem 9 anos de idade e só foi diagnosticado como deficiente auditivo aos 6 anos. As chances de ele nascer com surdez eram grandes já que seu pai, Edio Asen de 43 anos, é surdo bilateral (não ouve dos dois lados) e a genética é uma das maneiras de difundir a deficiência. Mesmo fazendo teste da orelhinha momentos depois de seu nascimento Enzo foi descrito como ouvinte 100%.
Este erro médico proporcionou a Enzo muitos episódios desagradáveis em sua vida, o menino chegou a ser taxado como autista por conta de sua sensibilidade no ouvido. A falta de audição de um dos lados do ouvido faz com que o equilíbrio da pessoa seja atingido, causando estranhes para quem não conhece um pouco mais sobre deficiência auditiva. Preconceito sofrido por Enzo até que seu diagnóstico como surdo bilateral fosse confirmado.
Enzo espera que a comunidade surda tenha o que sempre deveriam ter, acessibilidade. A falta de intérpretes em locais públicos e privados é um dos maiores problemas, mas ainda não o maior segundo ele. O ensino de LIBRAS a toda população, segundo ele, seria a solução para que assim toda comunidade conseguisse se comunicar com um surdo.
Edio, surdo bilateral, tem uma opinião digamos que mais ‘forte’ e formada sobre as faltas e necessidades de uma comunidade que não tem voz. Para ele “se as crianças aprendessem LIBRAS no início da escolaridade não haveria necessidade de ter intérprete, já que a pessoa sairia da escola falando em LIBRAS, como o português é falado. Não haveria a necessidade de pagar um intérprete ou impor a presença de um em lei, as pessoas iriam se tornar bilíngues naturalmente, isso seria acessibilidade completa. Porque vocês estudam Língua Inglesa na escola se ela nem é uma língua oficial em nosso país?” argumenta o homem que em 43 anos de vida, viu pela primeira vez um plano de governo apresentado em LIBRAS.
Alice, Edio e Enzo continuarão lutando firmemente para a inclusão completa da comunidade surda na sociedade. Eles pretendem continuar ensinando pelos bairros da Capital a Língua de Sinais e levar à população a real importância da acessibilidade. Neste mês de março Alice completa cinco meses de gestação do seu mais novo soldado da AEDA, o pequeno Eros vem completar a família, fortalecer a luta e encher de mais amor o coração de uma mulher que luta bravamente como uma garota pela qualidade de vida de quem não pode gritar por mudanças.
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